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quarta-feira, 6 de março de 2013

2009 - CENTENÁRIO do escritor PATATIVA DO ASSARÉ    


A partir de amanhã, e até o dia 5/03/2009, o município do Assaré está em festa para marcar os 100 anos de seu filho maior PATATIVA DO ASSARÉ.

 “Seu doutor só me parece/

que o senhor não me conhece/
nunca soube quem sou eu/
nunca viu minha paioça/
                                            minha muié minha roça/
                                            nem os fios que Deus me deu”.
 Ao se autodefinir como um pobre matuto roceiro, o poeta Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, nunca imaginou que o seu nome fosse ficar gravado nos principais equipamentos de sua cidade natal. Estrada, emissora de rádio, memorial, universidade e escolas têm o nome do poeta que, se fosse vivo, estaria comemorando 100 anos de idade no próximo dia 5. Patativa nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana e morreu em 8 de julho de 2002.

Sete anos depois de sua morte, o nome daquele agricultor sofrido, que se tornou órfão de pai e arrimo da família na adolescência, é o maior referencial de Assaré que, se não fosse o poeta, era mais uma “cidadezinha” perdida nos limites do Cariri com a região dos Inhamuns, a mais seca do Estado. Nem mesmo o Barão de Aquiraz, que foi deputado, senador e também vice-presidente do Ceará e construiu sua casa, no Sítio Infincado, município de Assaré, conseguiu projetar o nome da cidade.
Além das fronteiras
O menino Antônio Gonçalves da Silva, que virou “Senhorzinho” para a família e transformou-se em Patativa para o mundo, ultrapassou as fronteiras do Brasil e está sendo estudado na cadeira de Literatura Popular Universal, sob a regência do professor Raymond Cantel, na Universidade de Sorbonne, França, uma das mais antigas do mundo. Patativa do Assaré, segundo Cantel, era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil.

Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. “Basta vê no mês de maio/ um poema em cada gaio/ um verso em cada fulô”. O professor Plácido Cidade Nuvens, reitor da Universidade Regional do Cariri (Urca), que escreveu o livro “Patativa do Assaré e o Universo Fascinante do Sertão”, editado pela Fundação Edson Queiroz, vai incluir na segunda edição a tradução dos poemas de Patativa em francês e italiano. O terceiro capítulo tem o título de “A Triste Partida”, que trata do velório e morte do poeta.

A partir de hoje, a cidade de Assaré se “engalana” para refletir sobre a verdadeira dimensão deste homem e de sua obra, a verdadeira grandeza deste agricultor que construiu uma poesia capaz de colocá-lo, em pé de igualdade, ao lado dos maiores nomes da nossa literatura. Uma das homenagens é a restauração da casa onde Patativa nasceu, na Serra de Santana. Foi mantida a mesma estrutura do imóvel anterior. Até mesmo a janela que foi aberta no quarto escuro onde nasceu Patativa foi fechada por determinação dos arquitetos que acompanharam a restauração.
Museu temático
A idéia, segundo o secretário de Cultura de Assaré, Marcos Salmo, é transformar a casa em um museu temático, onde os visitantes possam encontrar, além de móveis antigos restaurados, objetos pessoais do poeta e fotografias da família. O museu irá destacar ainda Patativa como agricultor, abordando este aspecto da vida do poeta, que, mesmo se enveredando pela cultura popular, sempre esteve próximo às atividades do campo, ao cultivo da terra que lhe serviu de inspiração para criação dos versos.

Os móveis foram restaurados pelo poeta Cícero Batista, que foi companheiro de Patativa do Assaré nos desafios de viola. Um dos objetos restaurados foi um santuário com mais de 100 anos. O filho de Patativa, Afonso Gonçalves, que é carpinteiro, fabricou uma das janelas da casa.

Está semana, os filhos de Patativa, Geraldo, Afonso e Inês, que moram na Serra de Santana, acompanharam os últimos detalhes de reconstrução da casa. “Foi um serviço bem feito, eles reconstruíram até o ‘sótom’, onde eram guardados os legumes”, diz o filho mais velho, Geraldo Gonçalves.

A casa de taipa, chão batido, é o retrato fiel da realidade nua e crua vivida pela família Gonçalves. Ali, entre quatro paredes, na solidão da serra, o poeta construiu o seu mundo. Enquanto irrigava a terra árida com o suor de seu rosto, na luta desesperada pela sobrevivência, Patativa cantava as amarguras e alegrias da vida ao som de uma viola.
Família pobre
Os filhos e netos do poeta, que acompanharam de longe a restauração da casa, têm consciência do que o imóvel representa para a família. “Nele estão guardadas todas as emoções de uma família pobre”, diz Inês Alencar, filha mais velha de Patativa, destacando que a casa “é um sacrário de sonhos e ilusões”. É com este sentimento de saudade e gratidão, mas também de uma timidez própria do povo sertanejo, que os familiares de Patativa participam da festa que marca o centenário do pai famoso. Este que nunca deixou de ser o “Senhorzinho”, ou o repentista tocador de viola que varava as madrugadas das noites sertanejas, com versos incomparáveis.
ANIVERSÁRIO
1909 foi o ano de nascimento do poeta popular Patativa do Assaré, que aniversaria os 100 anos no próximo dia 5 de março e vai ganhar ampla programação em municípios do Cariri e em Fortaleza


Reinauguração da casa de PATATIVA DO ASSARÉ.

A reinauguração da casa onde nasceu o poeta Patativa do Assaré, no dia 5 de março de 1909, quebrou o silêncio, ontem, na Serra de Santana. Cerca de 500 pessoas, entre elas o vice-governador do Ceará, Francisco Pinheiro, o secretário da Cultura do Estado, Auto Filho, e o prefeito de Assaré, Evanberto Almeida, participaram da solenidade, parte da programação em homenagem ao centenário de Patativa.

A restauração, feita pela Prefeitura Municipal com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado, manteve a mesma estrutura do antigo casarão. Até o fogão à lenha permanece, guardando as lembranças dos tempos difíceis, quando a família Gonçalves se alimentava à base de feijão e milho. Na sala da frente, ainda está o velho oratório, onde o poeta, devoto de Nossa Senhora Aparecida, rezava o terço diariamente.

Uma cantoria de violeiros abriu a solenidade de reinauguração da casa. Eles subiram a serra para prestar solidariedade ao companheiro de desafios à viola, nas madrugadas sertanejas. A interpretação da poesia “A Morte de Nanã”, pela atriz Cícera Carmo, emocionou a todos, ao descrever a história de uma jovem que morreu por falta de assistência médica.

Entre a multidão, a neta de Patativa, Antônia Gonçalves, encheu os olhos de lágrimas. Aquele quadro dramático era a lembrança mais forte de uma família pobre e honrada criada enfrentando as adversidades da vida aperreada da zona rural. O poema, explica o filho mais velho do poeta, Geraldo Gonçalves, foi inspirado no sofrimento de uma das filhas de Patativa, chamada Ana, que morreu naquela situação.

Em Assaré, o clima era de festa. O palanque armado em frente à Igreja Matriz serviu de palco para a programação de shows, aberta no último dia 1º e encerrada na madrugada de hoje, com shows de Raimundo Fagner, Waldonys, Dominguinhos e Forró Sacode. As ruas foram interrompidas com bancas de bebidas e comidas. A TV Diário deslocou um “link” para transmissão de flashes ao vivo. No meio da rua, o artesão José Belarmino vendia estátuas de madeira do poeta.

A casa onde morreu Patativa, ao lado da Matriz, continua a respirar poesia. O poeta Geraldo Alencar, sobrinho de Patativa e apontado como o um dos seus seguidores, saudou o centenário do tio: “Partiu, mas deixou o nome / gravado em cada memória/ sua vida e sua história/ estão gravados na fome/da pessoa que não come/ sujeita ao podre regime/ de assalto de droga e crime. Num viver desesperado/ a onde o pobre coitado/ se espreme, mas não se exprime”.

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